Vivemos em nosso país, nos últimos anos, uma crise sem precedentes entre os Três Poderes (Executivo, Legislativo e o Judiciário), como observa o cientista político Murilo de Aragão . Uma crise de natureza institucional, que pode ser o estopim de crises muito maiores, quanto ao ordenamento social, podendo agravar o cenário político e econômico brasileiro, com fuga de investidores, prejuízos para a retomada da economia, desemprego, fome e incerteza quanto à garantia de direitos civis previstos na Constituição Cidadã (Brasil, 1988). A situação chegou a ponto de o presidente brasileiro afirmar que: “não são três Poderes, mas dois” , acusar fraude eleitoral nas eleições que ele mesmo venceu e ameaçar não aceitar, nas próximas eleições, outro resultado que não seja a sua vitória, se o sistema eleitoral não for modificado . O contexto de instabilidade política, que tanto ameaça à democracia, agravado pelos efeitos da pandemia de COVID-19, cria um cenário de desemprego, fome e desesperança. Paralela a esse colapso econômico, político e social, presenciamos uma outra crise, de natureza ambiental. A devastação sem precedentes na Amazônia tem chocado o mundo e mobilizado governos, organismos internacionais e instituições não governamentais em defesa da maior floresta tropical do planeta. No Brasil, o governo federal tem sustentado sua posição disseminando fake news em profusão, sobretudo nas redes sociais. Um exemplo recente, que ilustra seu negacionismo, foi o discurso do presidente brasileiro na 76ª Assembleia Geral da ONU. Esse evento instigou discussões entre os estudantes de uma escola pública brasileira, a respeito da veracidade ou não das informações apresentadas, e que dados estatísticos podem embasá-las. É disso que trata esse artigo. O primeiro ponto que gostaríamos de considerar é em relação a alguns resultados de uma experiência de ensino de abordagem baseada em projetos, iniciada a partir da emergência desse assunto nas aulas de matemática, à luz da Civic Statistics. Nesse capítulo, optamos por não traduzir essa expressão, uma vez que, na turbulência política, social e econômica que vivemos, o conceito de civismo foi totalmente deturpado em prol de uma concepção de (des)governo que beira o totalitarismo, mas adiantamos que, aqui, o termo “Civic” está mais próximo da ideia de direitos civis. É importante assinalar, que realizamos um recorte sobre o desenvolvimento desse projeto, analisando a confrontação dos dados apresentados no referido discurso com informações coletadas de outras fontes, com o uso de textos ricos em representações e na leitura e interpretação de dados dinâmicos, elementos de grande relevância para a promoção do letramento estatístico.