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Categoria: Produtos e Processos
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Resumo:

Este capítulo tem por objetivo apresentar, a partir da experiência de professores em formação inicial, o desenvolvimento de uma atividade de Educação Financeira com a intencionalidade de promover o Letramento Estatístico. Atualmente emerge a necessidade da leitura de dados, com criticidade, em decorrência ao cenário social de notícias principalmente veiculadas em mídias. O Letramento Estatístico é uma competência necessária para compreender e analisar informações estatísticas em nosso dia a dia (Wallman, 1993). De forma a complementar este conceito, Cazorla et al. (2010) destacam que ao realizar o Letramento Estatístico o cidadão é preparado para ler o mundo através de informações estatísticas. Ao que tange a Educação Financeira, esta pode ser definida como uma área da matemática que abrange informações, formação e orientação sobre o dinheiro, buscando uma compreensão acerca de finanças, economia e principalmente as oportunidades e os riscos que os circundam (Campos, 2012; Silva; Powell, 2013; Trindade, 2017). O desenvolvimento da Educação Financeira discorre por um processo de ensino que possibilita aos estudantes analisar e fazer julgamentos, tomar decisões e assumir posicionamentos críticos que envolvam questões financeiras frente à sociedade (Silva; Powell, 2013). Na Base Nacional Comum Curricular (BNCC), para a Educação Estatística, é proposta a exploração das habilidades desde a Educação Infantil em seus campos de experiência (BRASIL, 2018). Para o Ensino Fundamental, ocupa dentro da área Matemática uma unidade temática específica, Probabilidade e Estatística, e aborda habilidades, tais como “Interpretar dados estatísticos apresentados em textos, tabelas e gráficos (colunas ou linhas), referentes a outras áreas do conhecimento ou a outros contextos [...].” (BRASIL, 2018). No BRASIL, a inserção da Estatística nos objetos de estudo é considerada recente (Pagan, 2010), e muitas vezes ainda é restrita aos conhecimentos e currículo da matemática, mesmo que pesquisadores da área defendam seu ensino e aprendizagem de forma interdisciplinar (Lopes; Meirelles, 2005; Pagan, 2010). Lopes e Meirelles (2005) afirmam que trabalhar a Estatística isoladamente nas aulas de matemática, de forma fragmentada, pode produzir resultados negativos na formação dos estudantes, se comparado ao ensino da mesma de forma integrada às demais unidades temáticas e disciplinas. Concomitantemente à Educação Estatística, a Educação Financeira, em termos de documentos curriculares no BRASIL, apresenta habilidades restritas ao currículo da matemática. Na BNCC, aparece na unidade temática, números, que dispõe, do 6º ao 9º ano do Ensino Fundamental, o desenvolvimento de habilidades que envolvem sistema monetário, lucro, juros, porcentagem, entre outros (BRASIL, 2018). Todavia, as orientações acerca da Educação Financeira, explicita a necessidade de ser desenvolvida como tema transversal, desde a implantação dos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN) (BRASIL, 1997). O documento define os temas transversais como temáticas que tratam de questões sociais relevantes de forma transversal às diversas áreas do conhecimento (BRASIL, 1997). À vista disso, no BRASIL foi constituído no ano de 2010, o Decreto Federal 7.397/2010, intitulado Estratégia Nacional de Educação Financeira (ENEF), onde seu objetivo concerne no desenvolvimento da autonomia e na tomada consciente de decisões financeiras. O documento aponta que poucos brasileiros são financeiramente educados, uma vez que não há planejamento em seus gastos, demonstrando uma vulnerabilidade em tomar decisões acerca de empréstimos e investimentos, e tornando-os suscetíveis a fraudes e golpes financeiros (BRASIL, 2010). A Educação Financeira, conforme aponta Teixeira (2015), não se limita a estratégias de economizar, mas em desenvolver um planejamento de ações futuras, buscando proporcionar segurança e estabilidade financeira. A ENEF apresenta a Educação Financeira como, [...] o processo mediante o qual os indivíduos e as sociedades melhoram sua compreensão em relação aos conceitos e produtos financeiros, de maneira que, com informação, formação e orientação, possam desenvolver os valores e as competências necessários para se tornarem mais conscientes das oportunidades e dos riscos nele envolvidos e, então, poderem fazer escolhas bem informadas, saber onde procurar ajuda, adotar outras ações que melhorem o seu bem-estar. Assim, podem contribuir de modo mais consciente para a formação de indivíduos e sociedades responsáveis, comprometidos com o futuro (BRASIL, 2011). Para tal, é preciso estar ciente da diversidade de temáticas em torno da Educação Financeira, a qual demanda uma compreensão dos significados e possibilidades na tomada de decisão, assim como emerge na Educação Estatística. Com isso, a soma dos aprendizados que a Educação Estatística e Financeira proporciona para o estudante, justificam a necessidade de desenvolver estas habilidades em toda Educação Básica. À vista disso, compreende-se a potencialidade de atrelar a Educação Estatística à Educação Financeira, tendo em vista a relevância de sua participação na formação dos cidadãos. Dessa forma, foi proposta, por duas professoras em formação inicial, uma atividade intitulada “compras da semana”, que Educação financeira e educação estatística |99 teve por objetivo desenvolver o Letramento Estatístico a partir da compreensão de conceitos e ideias da Estatística Descritiva, como por exemplo as medidas de tendência central, moda, média e mediana, e suas aplicações no cotidiano. O desenvolvimento desta atividade permitiu às professoras descrever em uma narrativa autobiográfica, a experiência vivida. Para isso, as professoras realizaram um estudo das habilidades dispostas na BNCC, a fim de proporcionar uma atividade interdisciplinar que contemplasse as capacidades de calcular, resolver e elaborar problemas de porcentagens, utilizando estratégias pessoais, cálculo mental e calculadora, em contextos de educação financeira. Além de organizar um cardápio equilibrado com base nas características dos grupos alimentares e nas necessidades individuais para a manutenção da saúde do organismo. Bem como, discutir a ocorrência de distúrbios nutricionais entre crianças e jovens a partir da análise de seus hábitos e por fim trabalhar medidas de tendência central de uma pesquisa estatística (média, moda e mediana) com a compreensão de seus significados (BRASIL, 2018). Assim, este capítulo retrata a experiência vivenciada, a partir de um diário autobiográfico construído para receber a escrita narrativa acerca do desenvolvimento de atividades de Letramento Estatístico, aplicadas no segundo semestre do ano de 2019 em uma escola pública do extremo sul do BRASIL. Esta prática foi desenvolvida no Projeto de Letramento Multimídia Estatístico LeME: uma interação entre a pesquisa acadêmica e a realidade escolar dos anos finais do Ensino Fundamental. O Projeto almeja o Letramento Estatístico para estudantes dos anos finais do Ensino Fundamental da cidade do Rio Grande, em parceria com a Universidade Federal do Rio Grande e o apoio da Fundação Carlos Chagas. A escrita narrativa autobiográfica, foi motivada por uma questão norteadora, a qual buscou perpassar a ideia de apenas contar uma história, mas sim trazer em seus resultados o motivo pelo qual essa história deve ser contada. 

 

CAVALCANTE, H. C. ; MACHADO, J. ; BRAZ, G. ; PORCIÚNCULA, Mauren . Letramento Estatístico e Financeiro: estratégia de ensino com as compras da semana. In: Marco Aurélio Kistemann; Fabiano dos Santos Souza. (Org.). Educação financeira e educação estatística. 1ed.Nova Xavantina: Pantanal, 2021, v. 1, p. 97-113.